Maiores Ídolos da Udinese

Zico (Arthur Antunes Coimbra):





Não à toa, Zico chegou cercado de expectativas a Udine. Era o segundo dos meio-campistas da seleção brasileira na Copa de 1982 a desembarcar na Itália. Juventus, Napoli e Roma também estavam entre os clubes interessados no rubro-negro, mas a Udinese levou a melhor na negociação. Os friulani não pouparam esforços para buscar o brasileiro e pagaram um valor recorde até então no país: seis milhões de liras (ou, em dólares, quatro milhões). O Flamengo tentou evitar o negócio, buscando apoio de empresas ao ofertar um novo contrato a Zico. As cifras colocadas no cheque pelos italianos, no entanto, acabaram pesando. “Querem que eu fique com todo o peso pela venda do maior ídolo da história do Flamengo. Mas foi Zico quem me propôs sair, ele tem o dever de vir a público dizer isso”, declarou o então presidente do Fla, Antônio Augusto Dunshee de Abranches. Era tanto dinheiro que o negócio chegou a ser anulado pela federação italiana, alegando que a Udinese não havia comprovado suas condições financeiras. A ida de Zico a outro clube europeu chegou a ser cogitada, com o Real Madrid encabeçando as especulações. Só depois da pressão política feita pela torcida – o slogan levantado era “Zico ou Áustria”, em referência ao domínio do Império Austríaco sobre a região durante o Século XIX – é que a transferência foi liberada, com o intermédio do presidente italiano, Sandro Pertini. Embora Zico tenha sido acolhido pelos torcedores, o negócio também gerou críticas em Udine. Maior empresa de eletrodomésticos da Europa e acionista majoritária da Udinese, a Zanussi Spa havia demitido 4,5 mil funcionários dias antes da conclusão da transferência. A situação conflitante culminou com protestos de associações de trabalhadores, mas nada que impedisse a ida do jogador à Itália.

O auge em Udine:


Como era de se esperar, Zico foi recebido como um rei pela torcida. E não demorou a justificar os milhões investidos em seu futebol. Logo na estreia no Campeonato Italiano, o meia conduziu a goleada por 5 a 0 sobre o Genoa, balançando as redes duas vezes e dando passes para mais dois tentos. Na rodada seguinte, os friulani se mantinham na ponta graças a mais uma atuação notável do Galinho: 3 a 1 sobre o Catania, com outros dois gols e uma assistência. Ainda que Zico continuasse destoando, o bom início da equipe treinada por Enzo Ferrari não se manteve. Dona do terceiro melhor ataque da Serie A (47 gols marcados em 30 rodadas), a Udinese descompensava com a terceira pior defesa (40 gols sofridos) e encerrou a campanha na nona colocação, a duas vitórias da zona de classificação para a Copa da Uefa. Já na Copa da Itália, a sorte não foi diferente, com o time eliminado nas quartas de final pelo Verona. Contudo, a irregularidade do clube não atrapalhou o sucesso de Zico em sua temporada de estreia. O brasileiro foi o vice-artilheiro da Serie A, anotando 19 gols em 24 partidas – e poderiam ser mais, não fosse uma lesão sofrida durante o segundo turno. Oito das 11 vitórias do clube no torneio contaram com ao menos um gol do camisa 10, que deixou sua marca em confrontos com os quatro primeiros colocados do campeonato naquele ano – Juventus, Roma, Fiorentina e Internazionale. A adaptação rápida ao futebol europeu acabou reconhecida. Zico foi eleito o melhor jogador do mundo em 1983 pela revista World Soccer. O brasileiro recebeu 28% dos votos dos leitores, à frente de Michel Platini, Paulo Roberto Falcão, Diego Maradona e Karl-Heinz Rummenigge. O francês, inclusive, ganharia naquele ano a Bola de Ouro da revista France Football (na época, só europeus participavam do prêmio), registrando o quádruplo da pontuação de Kenny Dalglish, segundo colocado.

Queda de rendimento:

O rendimento de Zico, porém, caiu vertiginosamente em sua segunda temporada na Itália. Nem mesmo a chegada do técnico brasileiro Luís Vinício ajudou o Galinho a repetir o impacto alcançado nos meses anteriores. O meia anotou apenas três gols no certame e por pouco não amargou o rebaixamento, com a Udinese ficando apenas duas posições acima da zona da degola. A baixa de Zico na temporada 1984/85, porém, é explicada pelas sucessivas lesões sofridas. Problemas musculares o deixaram quase quatro meses afastado dos gramados, permitindo que ele fizesse apenas 15 jogos na Serie A. Para piorar, a Itália vivia o inverno mais rigoroso em 100 anos. Em ranking elaborado pela revista Guerin Sportivo, o meia foi apenas o 15º melhor estrangeiro naquela temporada. Além disso, sua situação fora dos gramados também era complicada. Zico foi acusado de sonegação de impostos e constituição ilícita de capital no exterior, tendo dois terços de seu salário suspenso e pagando 600 mil liras à justiça italiana. A própria transferência do jogador à Udinese teria sido fraudulenta, com um contrato subfaturado. Zico só seria absolvido do caso em 1988. Diante de tantos problemas, a volta ao Flamengo em 1985 foi um alívio para o camisa 10, que ainda tinha seu nome ligado à Juventus e ao Torino. Os rubro-negros pagariam US$ 2,5 milhões aos italianos, além de comprometerem a renda de dez amistosos na Europa. Já o jogador teve que abrir mão de um bom dinheiro, recebendo um salário cinco vezes menor no Rio de Janeiro. Apesar dos altos e baixos, Zico continuou sendo venerado pela torcida da Udinese. Em 2009, o veterano recebeu o título de cidadão honorário de Udine. E o aniversário de 60 anos do Galinho também não passou em branco, homenageado pelo clube com um programa especial (veja o segundo vídeo abaixo). Uma passagem que pode não ter rendido títulos aos friulani, mas deu aos torcedores um ídolo de proporções incomparáveis.




Antonio Di Natale:




A Udinese é um clube que se orgulha, com razão, de ter uma das melhores redes de olheiros da Itália, quiçá do mundo. O trabalho espalhado ao redor do planeta é muito bem feito, digno de aplausos. Não é raro pegarmos o elenco do clube e nos depararmos com jovens oriundos de diversas nacionalidades e continentes. Exemplos não faltam: Alexis Sanchez, Luis Muriel, Handanovic, Asamoah, Muntari, Isla, entre outros. Porém, o maior ídolo do time não chegou à Udinese nessas condições: Di Natale veio “velho”, com 26 anos, e já era conhecido do público italiano devido ao seu bom trabalho nas séries A e B jogadas no seu ex-clube, o Empoli.

Início e história na Udinese Totò, como também é conhecido, chegou ao clube na temporada 2004/05 para não sair mais. Acumulou gols e presenças que marcaram a memória do torcedor friuliano, além de atitudes que o fizeram bandeira e ídolo, sendo comparado a outro grande jogador da história da Udinese: Zico. O Galinho tem até hoje uma bandeira no estádio Fruili. Como dito, Di Natale chegou na equipe na temporada 2004/05, já sendo peça chave do time treinado por Luciano Spalletti. Começava ali, no primeiro ano de clube, a fazer história: foi na citada temporada que a Udinese conseguiu sua primeira classificação em sua história para a UEFA Champions League. Nem mesmo o time de Zico e o de Bierhoff conseguiram tal feito.

As quatro temporadas de ouro:




Foram 80 em 107 jogos. De 2004/05 a 2008/09, Di Natale não acumulou números muito expressivos no que diz respeito ao número de gols marcados. A melhor marca veio em 2007/08, quando marcou 17 vezes em 36 partidas pela Serie A. No entanto, a idade vinha chegando. Após cinco temporadas de clube, Di Natale passaria a ser usado mais como centroavante, diferentemente de anos passados, quando jogava ao lado de companheiros mais fixos (Iaquinta, Floro Flores e Quagliarella foram alguns deles). A alteração mostrou-se extremamente benéfica para o atacante. A partir da mudança, Di Natale passou a ser um jogador completamente diferente de anos passados. Virou um atacante letal, combinando técnica com posicionamento e frieza digna dos maiores atacantes da história. Os números passaram a se tornar impressionantes tratando-se do tamanho da Udinese e em comparação a outros grandes clubes da Itália.

Tão impressionante que Di Natale foi duas vezes consecutivas o artilheiro da Série A. Marcou entre as temporadas 2009/10 e 2010/11 nada menos que 57 gols em 71 partidas. Superou atacantes como Cavani, Eto’o, Totti, Ibrahimovic e Diego Milito. Está enganado quem pensa que Totò di Natale parou por aí. O atacante continuou a marcar sem parar: foram 29 gols (23 na Série A) na última temporada e já são 25 gols (22 na Série A) na atual. Os incansáveis gols do italiano, atrelados ao ótimo trabalho do atual treinador Francesco Guidolin, fizeram da Udinese um time que brigou de igual pra igual com Napoli, Inter, Lazio e Roma na disputa por competições europeias. O clube se classificou duas vezes seguidas (2011/12 e 2012/13) para a pré-Champions League.

A Udinese infelizmente caiu para Arsenal e Braga nas duas últimas temporadas. Na atual, o time vem de uma arrancada sensacional e pode desbancar Inter, Roma e Lazio, e garantir uma vaga na próxima Liga Europa, tendo um time esfacelado pela política do clube de vender os principais jogadores garimpados para poder sobreviver sem dívidas. Guidolin e principalmente Di Natale fazem história no clube. Nota: Nas últimas quatro temporadas, Di Natale somou 102 gols em 138 partidas. Média de 0,74 gols/partida. Impressionante! Em todas as competições são 111 gols em 156 partidas. Média de 0,71/jogo. Caráter e atitudes de um grande ídolo fora de campo De comportamento tranquilo e pacato, fã de golfe, tênis e pescaria, Antonio Di Natale não se tornou ídolo só por ter levado a Udinese a voos mais altos e marcado gols atrás de gols.

Atrás do atacante goleador há uma grande pessoa, de reputação inquestionável e atitudes incomuns nos dias de hoje. A recusa de se transferir a Juventus Um episódio marcante na carreira do jogador foi ele ter recusado uma transferência para a Juventus. Foi na janela de verão da temporada 2011/12, quando uma proposta tentadora para clube e jogador foi enviada pela Juve. Di Natale não pensou duas vezes: evitou uma mudança na vida dos filhos e da família. Também por amor ao clube, recusou.

O episódio Piermario Morosini:

O capítulo da morte do companheiro Piermario Morosini, de toda a carreira e vida de Di Natale, sem dúvidas, foi um marco. Morosini foi um atleta revelado pela Udinese. Acabou morrendo em abril de 2012 após sofrer um mal súbito dentro de campo em partida pela Série B Italiana. Morosini perdeu a mãe quando tinha 15 anos e o pai dois anos depois. Um ano após a morte do pai, o irmão suicidou-se. Piermario então passou a ter a custódia da irmã, uma deficiente mental que vive em uma instituição especializada. Mas onde entra o jogador nessa história? Após a morte de Piermario Morosini, Di Natale, sensibilizado com a causa, pediu a custódia de Maria Clara, irmã de Morosini, prometendo cuidá-la até o final de sua vida. Mas quem Quem assumiu a custódia da irmã, prometendo de cuidar dela para sempre, foi Antonio Percassi, dono da Atalanta. (informação corrigida, diversas fontes davam que Di Natale detinha a custódia de Maria Clara) Este é Antonio Di Natale. Um exemplo dentro e principalmente fora dos gramados.



Números de Di Natale no clube: 

157 gols com a camisa da Udinese na Serie A – Maior goleador da história do clube. O segundo colocado é Lorenzo Bettini, com 67 gols; 15 gols em competições europeias com a camisa da Udinese – Recorde do clube; 162 gols na Serie A no decênio de 2003-2004 2012-2013 – Recordista; 295 partidas com a camisa da Udinese na Serie A – Só perde em número de jogos para Valerio Bertotto que vestiu a camisa bianconera em 334 oportunidades; Primeiro e único italiano a marcar gols na Serie A, Champions League, Copa UEFA/Liga Europa e Copa Itália em uma mesma temporada. Foram duas vezes (2005-06 e 2011-12). 3 classificações para a Champions League. Em todas, Di Natale esteve presente.



Retirado do site Doentes por Futebol.

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